Como sabemos, os tratamentos para o autismo, são capazes de melhorar a comunicação, a concentração e diminuir os movimentos repetitivos, melhorando assim a qualidade de vida do próprio autista e também da sua família.
As pesquisas demonstram que o tratamento mais eficaz é uma combinação de programas especializados, tais como: programa educacional, intervenções na comunicação, desenvolvimento de competências sociais, intervenção comportamental e intervenções motoras e sensoriais.
As pesquisadoras Susan E. Levy MD e Susan L.Hyman MD no artigo Complementary and Alternative Medicine Treatments for Children with Autism Spectrum Disorders, descrevem que tratamentos médicos complementares e alternativos são comumente utilizados em crianças com Perturbação do Espectro do Autismo (PEA).
Muitas famílias, optam por terapias alternativas por diversos motivos tais como:
- Medo em relação aos efeitos adversos da terapia farmacológica;
- · As terapias alternativas transmitem mais segurança (para eles);
- Desejo de utilizar várias abordagens para os mesmos sintomas e crenças pessoais acerca da saúde.
Esta revisão discute as evidências que apoiam os tratamentos mais frequentemente usados, classificados nas seguintes categorias:
- Práticas de integração corpo-mente (usado por 30% das pessoas com autismo);
- Estimulação magnética transcraniana (sem dados do uso por pessoas com autismo;
- Métodos Biológicos (usado por 50% das pessoas com autismo);
- Práticas Corporais (usado por 25% das pessoas com autismo);
Segundo os autores, todos os tratamentos devem ser embasados nos princípios da medicina baseada em evidência, integrando conhecimento técnico, valores do paciente e/ou da família e as melhores evidências de eficácia.
Os autores classificaram as terapias alternativas analisadas em:
- Nota A: Quando baseadas em estudos randomizados e controlados, revisões e metanálises;
- Nota B: Quando baseados em outras evidências como estudos controlados com uma boa metodologia e estudos não-controlados;
- Nota C: Quando baseados em relatos de caso ou teorias.
Práticas de integração corpo-mente
Yoga – nota C
– Não há estudo publicado relacionado aos sintomas de autismo em resposta às técnicas de yoga.
Musicoterapia – nota B
– O uso da música para reforçar a comunicação é aplicado frequentemente em um contexto de intervenção educacional;
– Alguns estudos demonstraram alguns efeitos positivos na comunicação verbal e gestual, mas não no comportamento de modo global.
Métodos biológicos
Suplementação de dieta vitamina B6/ Mg²+ – nota B
– Suplementos vitamínicos têm sido utilizados há mais de 50 anos para melhorar os sintomas de transtornos de saúde mental, e a vitamina B6 e o magnésio vêm sendo utilizados para tratar o autismo há mais de 20 anos;
– Devido à pequena quantidade de estudos, déficits na metodologia e tamanho de amostras, meta-análises não puderam ser feitas. As evidências não foram adequadas para a subsistência do uso destes suplementos.
Dimetilglicina – nota B
– Houve um relato de caso sobre o uso de dimetilglicina que sugeriu melhora na linguagem e na atenção em um grupo de crianças com comprometimentos intelectuais. Porém, em dois pequenos estudos duplo-cego, randomizados e com o uso do placebo, não foi observada melhora nos sintomas de autismo.
Melatonina – nota B
– Seus benefícios estão relacionados à indução e manutenção do sono;
– É um hormônio produzido pela glândula pineal, que regula o sono;
– Estudos clínicos têm observado anormalidades na produção ou liberação da melatonina em pessoas com PEA.
Vitamina C – nota B
– Geralmente não é utilizada como tratamento isolado, mas é frequentemente
combinada com outras vitaminas para o tratamento de crianças com TEA;
– Um estudo relatou resultados positivos na diminuição dos comportamentos
estereotipados, porém este estudo ainda não foi replicado.
Aminoácidos-nota C e Carnosina – nota B
– Os aminoácidos são precursores dos neurotransmissores e também agem como neurotransmissores. Por isso, algumas abordagens complementares tentam induzir ações químicas através de suplementos nutricionais. No caso do autismo, manipula-se a serotonina;
– Não há estudos de revisões que avaliem seus efeitos.
Omega 3 – nota B
– É fundamental para o desenvolvimento neurológico e não pode ser produzido pelo
corpo – só está disponível através da dieta;
– Suplementação oral tem sido realizada em crianças com alterações no
desenvolvimento como crianças com autismo;
– Um estudo demonstrou melhora em comportamentos graves em crianças com
autismo e o único efeito adverso observado foram sintomas gastrointestinais.
Folato – nota C
– Há uma hipótese de que a exposição aos agentes tóxicos ou anormalidades
endógenas pode interferir na função neuronal;
– Isto leva a uma regressão observada em até um terço das crianças com autismo,
que acredita-se que possa ser tratada com ácido fólico;
– Até o presente momento, na literatura científica, não há estudo com rigor
metodológico. Esta hipótese requer mais investigação.
Dieta sem glúten e sem caseína – nota B
– Tem sido sugerido que a eliminação do glúten e da caseína causam ou agravam os
sintomas de TEA;
– Vários detalhes têm que ser considerados: alimentos que contêm glúten e caseína são também importantes fontes de cálcio e vitamina D; ao excluí-los da dieta, deve-se buscar fontes suplementares para estes nutrientes. Se houver melhora, observar se tem algum outro aspeto envolvido (não relacionado ao PEA). E é imprescindível consultar um nutricionista.
Medicações gastrointestinais – nota C
– Há muitos relatos de sintomas gastrointestinais relacionados ao autismo, porém
não há estudos baseados em evidências disponíveis para avaliar a eficácia.
Sectretina – nota A
– É um hormônio gastrointestinal que vem recebendo muita atenção no tratamento de
sintomas do autismo;
– Porém, vários estudos com o devido rigor de metodologia científica não observaram
a eficácia da secretina para tratamento de PEA.
Tratamento com câmara hiperbárica – nota C
– Utilizado convencionalmente para tratar intoxicação por CO, equilíbrio de pressão
em acidentes em acidentes de mergulho, dentre outros;
– Por ajudar na oxigenação do cérebro, também vem sendo utilizado para tratar
transtornos neuropsiquiátricos;
– Há relatos de pais sobre alguma melhora nos sintomas de PEA com o uso dessa
terapia, mas não há estudos controlados e randomizados para comprovar sua
eficácia.
Quelação – nota C
– Não há estudos controlados examinando a segurança e a eficácia de tratamento
com quelação nos sintomas da PEA;
– Foram relatados casos de morte devido ao uso inapropriado do quelação.
Terapias imunológicas – nota C
– Existem investigações sobre o uso destas terapias em crianças com autismo, mas
na ausência de sintomas convencionais dos transtornos imunológicos, esta terapia
não é recomendada para crianças com autismo.
Antibióticos – nota C
– Há algumas especulações sobre o uso de antibióticos para o tratamento de
sintomas no autismo;
– E mesmo os pesquisadores advertem que o uso de antibióticos não deve fazer
parte da rotina clínica.
Antifúngico – nota C
– Apesar de sua popularidade não há estudos controlados sobre a eficácia desses
medicamentos nos sintomas da PEA.
Práticas corporais
Quiropraxia – nota C
– A revisão de literatura não inclui relatos que abordam especificamente a
manipulação quiropráxica ou massagens para tratar sintomas do autismo.
Massagem craniosacral – nota C
– Não há estudos que relatam esta modalidade no autismo.
Massagem terapêutica – nota C
Integração Auditiva – nota B
– Mesmo sendo observado alguma eficácia em alguns estudos, estes não puderam
ser considerados por deficiência metodológica, e deve ser considerado um
tratamento experimental até estudos baseados em evidências apoiar o seu uso.
Quando um paciente opta por terapias ou tratamentos Alternativos
Os autores falam da necessidade de um diálogo mais aberto entre o profissional de saúde e a família ou do próprio individuo autista, para saber quais tratamentos alternativos são
adequados ou não para determinada situação. E outro aspeto muito importante é que não há muitos estudos sobre a interação entre tratamento convencional e tratamento alternativo. Se faz necessário que os profissionais de saúde adquiram mais informações sobre os tratamentos alternativos para poderem aconselhar seus pacientes.
www.ama.org.br
Susan E Levy et al. Child Adolesc Psychiatr clin N Am. 2015 Jan.